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Capítulo 5

  • Foto do escritor: Maria Scarlet
    Maria Scarlet
  • 25 de abr. de 2020
  • 11 min de leitura

Atualizado: 5 de out. de 2022

No final dessa poesia, ele entrou em mim e gozou ao mesmo tempo em que recitou a última palavra. Eu me apaixonei completamente nesse instante e me viciei nesse sexo, despudorado e poético. Fico encharcada só de pensar nessa cena.

Acordo atrasada para a consulta com a Dra. Kauffmann. Chego correndo, toda suada. Percebo que a médica está serena, recostada em sua poltrona de tecido vinho, com detalhes em matelassê dourado. Ela está vestindo um macacão de crepe solto, com calças pantalonas, em um estilo bem feminino e chique. O ambiente é bem intimista, com muita peça de decoração antiga e muita madeira. Adornando sua estante principal, situada atrás da sua mesa, está um candelabro “Menorah” de ferro antigo, provavelmente uma peça de família.


– Oi, Anna. Como você está?

– Oi, Mariana. Estou bem. Bonito esse Menorah. É de família?

– É, sim, foi um presente do meu avô, que também era médico psiquiatra. Ele vivenciou os horrores da Segunda Guerra como prisioneiro nos campos de concentração…

– Nossa! E ele ainda está vivo?

– Está, sim. É o Dr. Berger Kauffmann, vive na Alemanha. Como você sabe o nome “menorah”? Você também é judia, Anna Lara?

– Não, o Jota é.

– Sério?

– Bom, na verdade a mãe dele é judia, Elisabeth Spielberg. Ele é “filho de ventre judeu”, o que o coloca na posição de judeu nato. Mas o pai não era judeu. Converteu-se para casar-se com a mãe do Jota, que é de uma família ortodoxa…

– Conheço a família Spielberg. A mãe dele é famosa… mas ela não é ortodoxa.

– Ela deixou de ser ortodoxa quando se casou com o pai do Jota. Foi quase deserdada pela família, mas com o tempo se reconciliou com eles.

– É… parece ser uma história interessante… mas vamos à sua história? E então… combinamos de hoje falar um pouquinho mais sobre a sua relação com o Jota. Podemos falar sobre isso, Anna? Já me desculpo antecipadamente porque terei que entrar mais na sua intimidade, perguntar detalhes sexuais… isso porque realmente preciso entender melhor a dinâmica sexual de vocês. Preciso identificar onde estão as forças e as fraquezas dessa relação e preciso entrar nessa questão para conseguir chegar a uma conclusão. O tema sexual entre vocês é algo que sempre a “comoveu” muito e que os uniu de uma forma muito intensa…

– É, sim, Mariana. Você está certa… tudo gira em torno do sexo. Sempre foi assim. Não conseguimos fugir dessa tara, dessa perversão.

– E por que você classifica a sua vida sexual com o Jota como “pervertida”? O que você não aprova nela?

Neste instante, percebo a presença dela, da “moça”. Continuo sem conseguir vê-la, mas sinto-a com intensidade… imediatamente me sinto desconfortável e começo a ficar incomodada com as perguntas da Dra. Kauffmann, acho estranha toda essa curiosidade pela nossa vida sexual…

– Vamos começar pelo começo… Como vocês se conheceram? – pergunta a doutora.


Neste momento, vejo a “moça” em pé, ao lado da janela do consultório e tento desviar meu olhar da direção da janela sem que a Dra. Kauffmann perceba. Tenho medo de que ela me diagnostique como uma louca psicótica com alucinações, mas não consigo evitar olhá-la mais uma vez. Desta vez, ela está com o dedo indicador na boca, pedindo-me que não conte nada da minha vida sexual com o Jota para a Dra. Kauffmann. Uma ideia passa pela minha cabeça, a ideia de que talvez ela não queira mesmo que eu saia dessa vida de promiscuidade que vivo, que a satisfaz e a faz gozar comigo… resolvo ignorá-la e contar tudo sobre meu passado com o Jota, em busca da salvação da minha alma, detentar mudar o que está errado e reconstruir uma Anna Lara “livre”.


– Nos conhecemos em uma boate chamada “Bartô”. Era uma boate que só riquinhos de São Paulo frequentavam… – Começo a lembrar-me mentalmente da primeira vez em que o vi, lindo. Estava com sua calça jeans rasgada, com sua blusa preta justa com gola em “v” e seu topete caído no rosto. Eu, garota classe média, sem estirpe ou qualquer outro adjetivo classudo, filha de pais divorciados católicos e sem nenhum conhecimento da vida. Ele, garoto de classe alta, altíssima, filho de mãe judia de família conservadora e pai ateu, ambos famosos e poderosos. Ele, culto; eu, ignorante. Ele, lindo; eu, “bonitinha”. Ele, sedutor ao extremo; eu, bem apagada… – Naquela noite eu estava com meu vestido preto superdecotado e meus 15 cm de salto, bem vulgar e oferecida… foi a primeira vez que fui a São Paulo. Estava com duas amigas mais velhas; uma delas, a Bianca, tinha o pai que morava em São Paulo e, a cada quinzena, ela ia encontrá-lo. Desta vez, havia nos convidado para passar o final de semana com ela, já que o pai estaria ocupado com os preparativos do novo casamento…


– E então?? – Pergunta Mariana, com um certo entusiasmo na voz.

– Bom, chegando à boate Bartô, tentei entrar com a minha carteira falsa, porque, na época, tinha 17 anos. O segurança, que tinha acabado de levar um fora de um cara que parecia ser o gerente do local, estava muito mal-humorado. Nem ligou para o meu decote e já foi me descartando: “Senhorita, essa carteira é falsa. Quando completar 18 anos pode frequentar o local, até lá…”

Foi aí que o Jota chegou, interrompeu-o e disse: “Mauro, tá louco?! Tá barrando a minha prima?”


O negão ficou branco em questão de segundos e, no alto de seus quase dois metros, diminuiu ao patamar de um anão e disse: “Me desculpe, Jota Jr, não sabia que era sua “prima”. Pode entrar, senhorita. Me desculpe…” – Lembro-me de ter me sentido triunfante naquele dia.


– E o que se passou a partir da entrada na boate?

– Ao passarmos pela porta, senti suas mãos percorrerem minhas costas até alcançar a dobra da minha cintura e seus braços envolverem todo meu corpo. Imediatamente sua boca colou em minha orelha e, sussurrando, disse: “A partir de agora, você é minha “priminha” e vai fazer o que eu mandar, ok?”.

– E o que você sentiu? – Seu olhar já deflagrava um certo contentamento com a história…

Eu gostei… muito. – Não posso contar a ela, mas me lembro de ter ficado toda molhada, com minha calcinha encharcada! – O curioso é que, depois desse momento, ele não tentou nada e se comportou como um verdadeiro “lord”. Ofereceu champanhe, dançou comigo a noite inteira, sorriu, me deu as mãos o tempo todo e, no final da noite, me beijou.

– E o que você sentiu exatamente?

– Ele me deixou louca. Maquiavélico e manipulador, ele não me tocou. Não transamos. Ele me despertou para novas sensações.

– Como assim?

– Já não era virgem. Havia transado com vários caras, uns sete, mais ou menos. Tive uma primeira vez ruim, estava bêbada… e acabei não me dando tanto valor no quesito sexual… e…

– Ok, mas vamos seguir com o seu encontro com o Jota. Quero focar a partir daí. E aí? O que aconteceu depois? Quando transaram pela primeira vez? — Os olhos da Dra. Kauffmann transbordam de curiosidade e posso sentir o desejo emanar de cada poro da sua pele branca e sardenta. Acho bem estranha essa interrupção… será que ela está excitada com a história?

– Transamos no segundo encontro, mas antes ele fez uma espécie de “joguinho” comigo… demorou um pouco.

– E que jogo é esse, Anna Lara? – Com minha cara ressabiada, entrego que me sinto desconfortável com o rumo da conversa. – Anna Lara, você pode se abrir comigo… que jogo é esse a que você se refere?

– Um jogo… uma forma de ele se expressar sexualmente. Ele gosta… como vou te explicar? Ele gosta de ultrapassar limites, de encontrar emoções que estão escondidas… de “produzir” essas emoções. Ele… me acendeu. Acordou algo que estava adormecido dentro de mim, na minha alma… hoje, percebo o tipo de manipulação que sofri e por que entrei tão profundamente em seu perigoso jogo. Ele não quis me tocar como os outros meninos da época, em vez disso, preferiu me seduzir. Ele me enfeitiçou e me prendeu. E isso já dura quase sete anos… ele conseguiu me dominar totalmente.

– E como ele fez isso?

– No dia seguinte, ele me ligou. Falamos cerca de quinze minutos no telefone – o tempo máximo que me lembro de ter falado com ele ao telefone. – Combinamos de sair no final de semana seguinte, para beber alguma coisa. Lembro-me de que passei a semana toda esperando por este momento. Quando chegou a sexta-feira, ele passou de carro (estava com o carro de um primo rico que sempre emprestava para ele quando ia ao Rio, o Vinícius.) – Entrei no carro, ele me beijou e me deu uma margarida pequena e ordinária, arrancada de um lugar qualquer.

Um nó na minha garganta me impede de continuar, preciso de ar… minha margarida ordinária que se foi junto com Miguel… a cena toda vem à cabeça…

– Continuando, fomos para um bar no Leblon. Lá tomamos uma, duas, três caipirinhas. Ele me perguntou tudo sobre a minha vida. Do que eu gostava, o que eu pensava. Perguntou se eu gostava de maconha e outros tipos de drogas. Perguntou se eu havia namorado outros caras antes… se tinha tido alguém sério. Rimos muito e ficamos horas conversando, mas, em um determinado momento, ele colocou a mão na minha coxa e subiu até a minha calcinha. Me tocou e me perguntou se nós iríamos transar…

– Foi isso? Desta forma??

– Na verdade, foi assim: ele enfiou seu dedo com força e o tirou delicadamente acariciando meus lábios já encharcados. E me perguntou:

“- Você vai me dar?”

“- Vou. Muito…”

“- Muito quanto? Vai me dar tudo?”

Sem pestanejar continuei no que, para mim era simplesmente uma brincadeira sexual:

“- Vou te dar tudo o que eu tenho e tudo o que você quiser.”

Ele riu, dessa vez sem mostrar os dentes, apenas com uma expressão gloriosa. De novo prosseguiu com seu toque usual de abaixar a cabeça e esticar seu topete para trás, respirou profundamente e fechou delicadamente seus olhos enquanto falava:

“- Anna Lara, vou te foder. Foder de verdade. Te garanto que vai ser diferente de todos os caras com quem você já saiu. E você vai gostar, ah, vai….”

– E você gostou dessa proposta? – Indaga uma “aflita” psicóloga.

– Gostei…

– Entendo. A promessa de um sexo sem pudor, anunciado dessa forma vulgar, encantou-a imediatamente. Como fugir de um desejo tão irresistível? Você se viu à frente de uma avenida de possibilidades. E quando finalmente vocês fizeram sexo pela primeira vez?

– Depois da saída no Rio, ele sumiu por uma semana e meia. Quase dez dias depois, em uma quarta-feira, se bem me lembro, ele me ligou e disse: “Você ainda quer me dar?”. Eu disse de uma forma envergonhada que sim… nesse momento eu só conseguia pensar no seu beijo e em como seria seu toque. Pensava que seria um sexo maravilhoso…

Nesse momento começo a me lembrar do que realmente eu pensei: sua mão na minha nuca, repuxando meus cabelos, e seu olhar me desejando. Pensei nele entrando no meu corpo completamente, no prazer que eu sentiria, quando ele estivesse dentro de mim, e no seu gemido de prazer com meu corpo.

– E então? – Noto um pequeno entusiasmo na voz da Dra. Kauffmann. Será que essa história está seduzindo-a também? Vejo a moça atrás dela, novamente, me sinalizando um gesto de silêncio. Resolvo ignorá-la.

– Bom, ele estava no Rio, disse que tinha vindo somente para me ver. Ele me buscou em casa e disse que me levaria para seu “retiro espiritual preferido”, que era como ele chamava a academia de jiu-jitsu que frequentava com os amigos do Rio. Na hora, eu imaginei que fosse alguma casa abandonada ou algo misterioso. Mas não…

Seguimos para o Leblon e estacionamos na rua. Fomos caminhando até um edifício velho pintado de verde-claro, onde ao lado da porta de ferro havia uma lanchonete de sucos naturais. Morri de vergonha por entrar à noite em uma academia com saltos altos. Rezei para não ser identificada na rua! Subimos as escadas estreitas e malconservadas. O aspecto era realmente feio e com um ar bem masculino, dava inclusive para sentir o cheiro dos hormônios desses jovens “trogloditas”.


Quando me dei conta, estávamos os dois em cima de uma espécie de tapete de borracha e meu salto estava literalmente “afundando”. Ele sorriu e me disse:

“- Não quero que você tire esse sapato de jeito nenhum, Anna Lara. Vai mais pra frente e, olhando no espelho, quero que você tire a roupa toda e fique nua, completamente nua… ah! Mas não tira esse salto alto! Esse salto fica, só ele. Fiquei imediatamente constrangida… nunca tinha tirado a roupa para ninguém. Já havia namorado muito, mas nunca havia passado do limite entre transar à meia-luz, em posições confortáveis e pouco expostas… havia transado, mas não havia me exposto nesse nível. Porém, a vontade de ultrapassar essa barreira foi mais forte e mais irresistível do que declinar timidamente.”


Mantive-me forte na minha proposta em acompanhar tamanha ousadia e fiz o que ele me havia pedido. Mais ainda, após tirar a roupa toda, o olhei fixamente e apoiei minhas mãos no corrimão de ferro à frente do espelho — lembrei-me das minhas aulas de balé e usei toda a minha elasticidade para esticar, ao máximo, meus joelhos, elevando minha bunda para o local mais alto possível. — Assim, exposta e despudorada, me ofereci completamente aberta para ele, meu “Jota Jr”… não foi rápido, entretanto, o nosso sexo. Foi constrangedoramente demorado. E ele fez questão de se aproximar bem devagar. Passo por passo, para admirar mais ainda a visão desnuda de toda a minha “retaguarda”. Ao chegar bem perto, para minha surpresa, esse homem vulgar e moleque começou a recitar uma poesia que, a partir de então, eu jamais conseguiria tirar da minha mente…

“- Na noite os pardos viram lobos, os indigentes viram reis e os homens viram objetos de prazer. O magro vira esbelto e o gordo, abastado. O esnobe é gentil e o carente, providencial. Na calada da noite todo sussurro é canção e todo gozo é hino. O hipócrita sorri satisfeito com a própria modéstia e as conhecidas se tornam íntimas parceiras de caminhada. Na noite todos são bonitos e qualquer oportunidade é sempre a última possível. Na noite os ângulos são perfeitos e o abismo, imperceptível…”


No final dessa poesia, ele entrou em mim e gozou ao mesmo tempo em que recitou a última palavra. Eu me apaixonei completamente nesse instante e me viciei nesse sexo, despudorado e poético. Fico encharcada só de pensar nessa cena. Todas as vezes em que ele recita essa poesia, me faz lembrar de todo o erotismo e sacanagem que me fez fazer, e eu chego a “pingar” de excitação.

Um dia, ao tirar a roupa para entrar no banho, lembrei-me dessa cena e comecei a sentir gotas de tesão pingando no chão do banheiro. O Jota viu a cena e, a partir desse dia, começou a me dizer que queria que eu “chorasse” para ele…


– Anna!

Percebo que estava completamente distraída relembrando essa noite. Nem me dei conta do que eu falei exatamente para a Dra. Kauffmann, mas acho melhor não perguntar também em que parte parei de falar…

– Oi, Mariana… acho que viajei para bem longe, não é?

– E como! Vamos terminar esse papo na próxima consulta, ok?

– Eh… sim, claro!

– Você tem tomado os remédios diariamente?


***


Essa sessão realmente me fez pensar… ajudou-me a enxergar nossa relação com um pouco mais de dignidade. A verdade é que esse amor, que me devora de prazer, também me enlouquece de vergonha. E o fato de saber disso me torna tão culpada quanto ele. Ou mais culpada ainda… sou refém de tudo o que sinto e de tudo que não consigo me desligar. Lembro-me das escolhas que tive, das que eram boas e das nem tão boas assim, mas nenhuma era sedutoramente pervertida quanto a do Jota Jr, do meu “J”…


A verdade é que esse amor, que me devora de prazer, também me enlouquece de vergonha. E o fato de saber disso me torna tão culpada quanto ele. Ou mais culpada ainda…

Esse homem, com cara de menino, topete na cara quadrada, olhos pequenos e sorriso largo, conquistou-me por completo e não me deu alternativa senão a de segui-lo e a de ser sua discípula, sua amante, sua boneca. Agora me encontro aqui, cercada de conflitos morais, todos fedidos e sujos de sangue. Todos indecentes até para se comentar com uma psiquiatra.


Próxima leitura -> Capítulo 6


***


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